segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Um novo caminho


Este artigo integra os comentários adicionais de especialistas, escritos com exclusividade para o livro

Economistas clássicos, incluindo Adam Smith, desenharam nosso quadro de pensamento da economia em um mundo no qual o capital e o comércio globais eram medidos em milhões – não trilhões – de dólares. Mas isso foi há dois séculos e meio. A terra era abundante, a mão de obra era barata, a energia não era fator importante de produção e o insumo escasso na produção era o capital financeiro. O capitalista, portanto, atingia um propósito social e era festejado e recompensado, e não ridicularizado por causar as piores crises econômicas e financeiras. Como os tempos mudaram.
O jornalista e ativista Bill McKibben agrupa a máquina a vapor e aquela outra “máquina”, a do crescimento econômico, como as duas descobertas mais significativas do século 18. Sem dúvida, ambos melhoraram o bem-estar de uma parte significativa da humanidade. O engenho do crescimento econômico criou empregos, evitou recessões e tornou-se uma medida ubíqua de progresso no século 20. Isso, apesar do fato de que sua principal medida, “o crescimento do PIB”, não captura muitos aspectos vitais da riqueza e do bem-estar nacionais, como mudanças na qualidade da saúde e a quantidade de nossos recursos naturais. E, mesmo assim, o crescimento do PIB tornou-se um “mantra” pelo qual os governos avaliaram seus desempenhos, conduziram suas economias e até buscaram sua reeleição.
A história do crescimento econômico no pós-guerra tem sido a do desenvolvimento insustentável: insustentável para os ecossistemas do planeta, para a diversidadede suas espécies e mesmo para a raça humana. Por algumas medidas recentes desustentabilidade, nossa pegada ecológica global dobrou nos últimos 40 anos, e agora é 30% maior do que a capacidade biológica da Terra tem de produzir para suas necessidades, e isso deverá subir. Baseando-se apenas em projeções populacionais, 50% a mais do que os alimentos atualmente produzidos serão necessários para alimentar a população global em 2050.
De toda a superfície da Terra, 35% já foi convertida para a agricultura, limitando a área da produtividade futura de sistemas nacionais. O setor de gado representa o maior uso humano único de terras e a maior fonte setorial de poluentes da água. Terras de pasto cobrem 26% da superfície da Terra, enquanto colheitas para alimentar animais respondem por cerca de um terço da terra arável. A extensão da produtividade agrícola terá consequências para a biodiversidade e é também um fator importante no aumento do desflorestamento: nos trópicos, este ocorre a uma taxa de cerca de 12,5 milhões de hectares por ano, representando não apenas perda séria de ecossistemas, mas criando ainda 1/5 das emissões antropogênicas de CO2. Ainda sem regime de “carbono verde” para controlar tais emissões, corremos o risco de perpetuar um regime polarizado de “carbono marrom”, requerendo a conversão extensiva de terras de pasto, colheitas e florestas em fontes de bioenergia, emitindo, no processo, mais do que foi poupado pela mudança para esse tipo de energia.
Hoje, há uma consciência crescente de que algo está muito errado e que, de maneiras fundamentais, a sociedade humana precisa mudar para poder resolver qualquer um dos constrangimentos de capacidade aqui descritos. De muitas direções, dedos estão sendo apontados para a crise econômica corrente, ela mesma resulta de crises de combustível, alimentos e finanças, e para as crises paralelas de nossos mundos ecológicos e climáticopúblicos, sugerindo que ambos partilham de uma causa comum: o fracasso de nosso modelo econômico. O desafio distribucional que surge do crescimento insustentável é particularmente difícil, porque aqueles que, em grande parte, causaram o problema – os países ricos – não sofrerão a maior parte, pelo menos não no curto prazo. Se a mudança do clima resultasse em uma seca que encolhesse pela metade a renda de 28 milhões de etíopes, por exemplo, isso mal se registraria no PIB mundial – seria menos de 0,003%.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) representam a ambição mundial de atacar a pobreza. A meta desses objetivos era 2015, uma data que parece, sombriamente, perto demais para sugerir um resultado exitoso. Os estresses sociais se acumulam como resultado de disparidades mais amplas em padrões de vida, e porque a pobreza tem tanto a ver com autorrespeito quanto com alimentos, vestimenta e abrigo. Ainda outra preocupação profunda.
Mas talvez nem tudo esteja perdido. Há abundante evidência anedótica que mostra que a conquista das ODM compreende prática e governança ambientais confiáveis. Como exemplo, a salvaguarda de florestas tropicais em países em desenvolvimento fornece oportunidades excepcionais para ligar dois dos mais sérios problemas que ameaçam o bem-estar humano hoje: a pobreza e as mudanças climáticas. E também traz benefícios colaterais: alimentos, fibras, combustível de madeira, água fresca e nutrientes do solo. Ajuda a controlar a seca, e cria um tampão contra desastres naturais – que apenas aumentarão com as alterações do clima.
Este é um exemplo de como fazer uso do capital natural para resolver grandes problemas, uma via não suficientemente explorada, hoje, porque a humanidade se desconectou do mundo natural, espiritual e mentalmente. A sociedade humana precisa mudar – sua economia, suas contabilidades, seus preconceitos implícitos contra o capital natural (versus o capital feito pelo homem), contra a riqueza pública (versus a riqueza privada) e contra o consumo lógico e menor (versus o maníaco e maior). E talvez, acima de tudo, a sociedade humana precise reexaminar e mudar sua relação com a natureza para que ela seja harmônica e de coexistência.
Em seu livro provocativo, Tim Jackson reconhece que a sociedade enfrenta um dilema profundo: o crescimento econômico é insustentável, mas o decrescimento – ou contração econômica – é instável. A “rota de fuga” desse dilema é tentar “descasar” a atividade econômica de seus impactos. Mas não há qualquer evidência de que isso esteja funcionando, e o consumo global de recursos continua aumentando. Atingir metas de mudanças climáticas exigirá reduções na intensidade de carbono, duas ordens de magnitude mais altas que qualquer coisa realizada historicamente. Frente a esse desafio, o livro se engaja em um reexame crítico da estrutura econômica e dalógica social do consumismo.
Prosperidade sem Crescimento propõe um novo caminho a seguir, permitindo que a humanidade sobreviva e floresça dentro dos recursos finitos do planeta.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/prosperidade-sem-crescimento/2013/10/25/um-novo-caminho/?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_psustentavel_prosperidadesemcrescimento

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Que mundo você apoia com suas compras?

Direto ao ponto, a pergunta é: você tem consciência de que suas escolhas como consumidor desenham o mundo em que vivemos? Já parou para refletir sobre as empresas e os produtos e serviços que você patrocina todos os dias? Pois está aí um assunto prá lá de bom de ser lembrado sempre, e mais um pouquinho.
Faça uma lista de valores e princípios que considera importantes na sua vida, na sua família, na vizinhança, na sua cidade. Em seguida, dê uma passeada pela casa, observando as marcas que estão por todo canto: de cosméticos, roupas, sapatos, alimentos, remédios, eletrodomésticos, móveis e acessórios de decoração, equipamentos eletrônicos, brinquedos, têxteis etc.

Será que nossas compras refletem o mundo que queremos para nós e para as futuras gerações?  Se realmente queremos um planeta mais saudável, com terra boa para plantar e água pura para beber, por que ainda compramos comida contaminada com agrotóxicos? Por que simplesmente não recusamos os produtos transgênicos?
Bebidas gaseificadas e altamente açucaradas estão longe de ser algo benéfico para a Terra e as pessoas. Então, por que consumi-las? Por que apoiar sua produção e toda a cadeia desastrosa que elas criam (de mais obesidade, dependência, seduções sem fim em comerciais de tevê, impactos socioambientais…)?
Nessa toada, para mim, roupa boa é roupa feita com tecido bom, que não detonou os rios no tingimento, que não poluiu, que não fez escravos na linha de produção, que soube valorizar a durabilidade em vez da efemeridade da moda. Se puder ser fruto de troca entre amigos, então, melhor ainda.
Esta semana vimos a história do laboratório que fazia testes horríveis em animais. Ficamos chocados, não é mesmo? E por que ainda compramos cosméticos e remédios que são fruto dessa prática? Não dá pra entender…
Se não queremos um mundo contaminado de lixo eletrônico, por que trocamos de celular a cada três meses?  Não quer viver em um mundo insalubre, reinado pelapoluição e pela perda de biodiversidade? Preste atenção aos materiais de construção que você escolhe para sua casa, à origem da madeira que deixou a porta da sala linda…
Aí, você pode me questionar: “mas as empresas não dizem muito sobre seus processos produtivos”… Então, é aí que nós, consumidores, temos que agir. Precisamos exigir mais transparência das empresas. Elas têm que nos informar correta e abertamente.
Dá trabalho, sim, mas vale a pena. Temos em nossas mãos o poder de verdadeirosmecenas de um mundo melhor, mais saudável e mais justo. Mas é preciso ser firme, questionar, pedir mais detalhes, estar atento sempre, refletir e evitar a ilusão da felicidade pelo consumo.
Felicidade tem a ver com saúde, bem estar, qualidade de vida, liberdade, água limpa, áreas verdes, ar puro, amigos, comida orgânica. E, se prestar atenção, vai ver que boa parte dessas coisas não vem em embalagens de plástico nem está disponível em gôndolas de supermercados…
Pode acreditar, o resultado dessa postura mais dura, digamos, diante do universo confuso das compras ainda pode render mudanças profundas em nossa sociedade. Isso, aliás, já está acontecendo. São várias as pressões para que fabricantes tenham mais “juízo” na hora de produzir seus bens e serviços: leis mais rigorosas, população mais atenta, mercado mais exigente. Está tudo aí, para tirarmos proveito como “designers” de um futuro melhor para todos. Pense nisso na próxima vez que for sacar o cartão de crédito da bolsa…

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos-e-gaianos/que-mundo-voce-apoia-com-suas-compras/?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_psustentavel_gaiatosegaianos

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

16/10: Dia da Alimentação - Alimentos nutritivos até o talo

O que você faz com a casca da batata depois que a salada ou o purê ficam prontos? Se a resposta for "Jogo no lixo", olha que tristeza: ali são detectadas 100 vezes mais substâncias benéficas do que no interior do tubérculo. E isso não é exclusividade da batata, não. "Algumas pesquisas já revelam que talos, folhas, sementes e cascas de vários alimentos são muito mais nutritivos do que sua polpa", conta a nutricionista Karime Cader Ribeiro Queiroz, coordenadora técnica do Banco Rio de Alimentos, programa social do Sesc Rio de Janeiro.

O problema é que a falta de aproveitamento integral de frutas e outros vegetais costuma ser hábito na cozinha dos brasileiros. Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, estamos entre os dez países que mais desperdiçam comida no mundo. "Existem indícios de que temos um dos lixos mais nutritivos do planeta", observa Karime. Por esse motivo, faz muito sentido o lançamento, em território nacional, do livro Cozinhando sem Desperdício (Editora Alaúde), assinado por uma expert em gastronomia e meio ambiente, a italiana Lisa Casali. Nele, a autora apresenta 130 receitas com as partes que normalmente são recusadas pelos cozinheiros. Tudo para provar que de lixo elas não têm nada, rendendo pratos sustentáveis e saborosos

Mas, antes de começar a usá-las, adiantamos que é preciso caprichar na higienização, já que certas áreas tendem a ser mais expostas a agrotóxicos, caso dos talos e das cascas. "Retire os pesticidas usando uma escovinha e água para lavar bem os vegetais", recomenda Lisa. "Depois, coloque os alimentos em recipientes de vidro ou louça e deixe-os de molho em uma solução à base de hipoclorito de sódio, seguindo as instruções da embalagem", completa a nutricionista Adriana Peloggia, do Centro Universitário São Camilo, na capital paulista. Feito isso, basta ter criatividade para vencer o tabu e encher a mesa de nutrientes. A seguir, destacamos quais, exatamente, são as substâncias bem-vindas à saúde presentes nos principais talos, cascas, sementes e folhas. E já damos uma receita fácil para incentivar o início de uma nova era, mais sustentável, na sua cozinha.

SEMENTESApesar de pequeninas, elas concentram elementos de peso. As sementes do maracujá, por exemplo, reúnem ômegas 3 e 6. "Ambos são essenciais para as funções cerebrais e a transmissão de impulsos nervosos", diz a engenheira agrônoma Giuseppina Lima, da Unesp - Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. As da abóbora não ficam atrás: "Elas têm gorduras boas, muitas fibras e são ricas em vitaminas e minerais", enumera a nutricionista Daisa Pinhal, do Oba Hortifruti, de São Paulo. Daí sua importância para o coração, o intestino, os olhos... 
PUDIM DE SEMENTES DE ABÓBORABata no liquidificador, por cerca de 3 minutos, os ingredientes: 1 copo de 200 ml de sementes de abóbora torradas e moídas, 2 copos de 200 ml de leite em pó, 2 copos de 200 ml de açúcar, 2 copos de 200 ml de água, 1 colher de sopa de amido de milho e 3 ovos. Em seguida, asse a mistura em uma fôrma de pudim em banho-maria.

TALOSSegundo Tânia Ferreira, professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás, eles são cheios de fibras, vitaminas e minerais. Logo, vale a pena aproveitar os talos de alcachofra, brócolis, espinafre e afins para fazer quiches, pães e bolos. "Para tornar aquela parte fibrosa mais macia, muitos desses talos devem ser submetidos a um tratamento térmico, como cozimento no vapor", avisa a nutricionista. No caso dos que serão ingeridos crus em sucos, o liquidificador dá conta do recado.
PURÊ DE MANDIOCA COM TALOSBata 1 quilo de mandioca cozida no liquidificador até formar um creme. Faça um purê, levando esse creme ao fogo com 2 colheres de sopa de margarina. Acrescente sal a gosto e reserve. À parte, prepare um refogado com alho, cebola picada, folhas e talos de espinafre, beterraba, couve-flor e nabo. Em um refratário, coloque metade do purê de mandioca e, por cima, o refogado de folhas. Por último, acrescente a outra metade do purê. Leve ao forno preaquecido (180 °C) por 10 minutos.

FOLHASQuando houver opção na feira, leve cenouras com folhas para casa, por exemplo. Segundo a nutricionista Adriana Peloggia, elas podem ser usadas em receitas de tortas, farofas, cuscuz, recheios e sopas, entre outras. "Em geral, são fontes de carotenoides", informa Giuseppina. Dentro do corpo, essas substâncias são convertidas em vitamina A, nutriente que apura a visão e reduz a formação de placas nas artérias. Sem contar que cada folha tem sua particularidade: a do rabanete apresenta muito selênio, um poderoso antioxidante; a da couve-flor possui fósforo, um protetor da memória; e a de beterraba acumula potássio, mineral que regula a pressão arterial. "Se as folhas estiverem amareladas, só aí é melhor descartá-las", pondera Karime Cader.
FOLHAS DE BETERRABA RECHEADASEm uma panela, refogue 3 dentes de alho e 1 cebola triturada em 2 colheres de sopa de azeite. Junte 500 gramas de carne moída e espere dourar. Adicione sal, 200 ml de água e 200 ml de molho de tomate. Cozinhe por 5 minutos. Abra 10 folhas de beterraba, coloque 2 fatias de queijo mussarela e um pouco do molho preparado com a carne em cada uma. Enrole. Coloque mais molho por cima e cubra com papel-alumínio. Leve ao forno preaquecido (200°C) por 20 minutos. Retire o papel, salpique com 1 xícara de chá de queijo parmesão ralado. Deixe no forno por mais 5 minutos, para gratinar.

CASCASDefinitivamente, o lugar delas é no prato, e não na lixeira. Primeiro porque são lotadas de fibras. "E essas substâncias estimulam o funcionamento do intestino", elogia Daisa. Fora os atrativos extras de certas cascas. No laboratório da professora Giuseppina, da Unesp, a camada externa da goiaba apresentou altas doses de polifenóis, inimigos do envelhecimento celular. "Notamos que seu potencial antioxidante é duas vezes maior que o da polpa", conta. Outra substância identificada ali foi o nitrato. "Em porções moderadas, ele é benéfico para as artérias", explica. De acordo com Karime, as cascas da cenoura, do abacaxi e da laranja também merecem destaque, porque oferecem potássio, cálcio, fósforo e vitamina C. A da banana é outra que impressiona: cheia de potássio, vitaminas e fibras, ajuda no controle do apetite e na perda de peso. Esses ricos ingredientes podem fazer parte de sucos, bolos, doces, geleias e farinhas. 
BOLO COM CASCA DE BANANABata 2 claras em neve e reserve na geladeira. No liquidificador, bata 2 xícaras de chá de leite integral e 4 cascas de banana. Separe novamente. Misture na batedeira 1/2 xícara de chá de margarina sem sal e 3 xícaras de chá de açúcar refinado até obter um creme. Adicione as 2 gemas, uma a uma, e o leite com cascas de banana. Despeje essa mistura em uma vasilha e acrescente 3 xícaras de chá de farinha de trigo. Mexa bem. Adicione, delicadamente, as claras em neve e 1 colher de sopa de fermento em pó. Coloque em uma assadeira untada com manteiga e farinha. Leve ao forno médio (200 °C) preaquecido por cerca de 40 minutos.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/saude/nutritivos-ate-talo-parte-desprezada-alimentos-chega-ser-mais-nutritivos-755145.shtml?func=2

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Em outubro, a Green se veste de rosa.


Outubro é o mês dedicado à prevenção do câncer de mama. Por isso, é chamado de Outubro Rosa. Mulheres entre 40 e 69 anos de idade são estimuladas a fazerem os exames preventivos da doença. E, é claro que a Green faria sua parte na propagação dessa ideia, afinal, propaganda também é responsabilidade social.


O câncer de mama é uma doença mais comum do que você imagina. Segundo dados da OMS, são mais de 1,38 milhões de casos por ano e mais de 458 mil mortes pela doença todos os anos.
Para não fazer parte dessa estatística, é importante adotar hábitos saudáveis a fim de prevenir essa doença. Além de realizar periodicamente os exames de rastreamento como a mamografia.
Algo interessante a se saber, é que uma vez diagnosticado com câncer, o paciente tem vários benefícios governamentais. Isso é algo que pouca gente sabe, mas de suma importância. Você pode conferir uma lista bem completa com os benefícios e as condições necessárias para consegui-los clicando aqui

Portanto, se você é mulher e encontra-se na faixa etária indicada, realize seus exames periodicamente, se não, informe suas amigas, sua família, pessoas do seu convívio e compartilhe.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Todas as Cores da Caatinga


Influenciados pelas recorrentes imagens de seca e pelo significado de Caatinga(caa=mata, tinga=branca), tendemos a acreditar num sertão nordestino quase monocromático, de um bege pálido, cor de vegetação ressequida e poeira. Mas não é bem assim. Não para as dezenas de artesãos de Santa Brígida e Serra Branca, na Bahia. Eles desmentem essa visão um tanto limitada com sua arte, ao extrair uma variada gama de cores das plantas da Caatinga para tingir suas peças de cestaria.
O belo tom de verde-musgo, por exemplo, vem do são-joãozinho ou besourinho (Senna macranthera); o avermelhado e o alaranjado saem do urucum (Bixa orellana); dois tons de amarelo são obtidos de plantas locais, popularmente apelidadas com nomes de espécies globalizadas, o açafrão e o algodão; o roxo é feito com jenipapo (Genipa americana) e por aí vai. Todas essas cores – mais as muitas misturas entre elas – são aplicadas à palha do licuri (Syagrus coronata), depois enrolada, trançada ou amarrada e transformada em bolsas, sacolas, tapetes, descansos, cestas para pães e objetos de decoração. As peças são exclusivamente tratadas com corantes naturais, sem uma gota de tintas químicas.
Os primeiros artesãos herdaram o conhecimento tradicional sobre as plantas-corantes e as técnicas de tingimento de seus pais e avós. Os novos artesãos somaram criatividade e a capacitação promovida desde 2006 pela Fundação Loro Parque (da Espanha) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com apoio do Instituto Arara Azul e da Tam.
José dos Santos Braga, mais conhecido como Zé de Rita, é um dos artesãos mais antigos. Ele foi o primeiro a compartilhar seu saber com os moradores de Serra Branca, a pedido de Simone Tenório, coordenadora do projeto. “Eu o convidei para ir à Serra Branca com o intuito de apresentar uma alternativa de geração de renda para a população. Como Santa Brígida, Serra Branca é área de alimentação das araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari), uma espécie muito ameaçada pelo tráfico e pelo corte da palmeira licuri, seu principal alimento”, explica Simone.
Com o estímulo à produção de artesanato, as palmeiras deixam de ser cortadas, as araras-de-lear se alimentam de seus frutos e os artesãos utilizam suas folhas. O número de folhas retiradas por palmeira é limitado a duas a cada 90 dias, para não prejudicar a planta e garantir a sustentabilidade da atividade, em longo prazo.
Após o primeiro contato, os artesãos das duas localidades passaram a trocar informações e criaram associações com estatutos comuns, preços comuns e peças comuns, com a mesma qualidade e o mesmo padrão. Assim, se eles recebem uma encomenda muito grande, não saem pela Caatinga pondo as palmeiras abaixo: eles dividem os pedidos entre os grupos para todos ganharem e todos respeitam a capacidade de suporte estabelecida para cada localidade.
Eles dividem até os resultados de experiências com novas cores, como a “fórmula” para um vermelho mais forte, feito da combinação entre o amarelo obtido do algodão com a tinta da casca de castanha de caju (Anacardium occidentale). Quem descobre uma tonalidade com boa aceitação, logo trata de passar a dica adiante, partilhando o sucesso com os vizinhos e com os artesãos da outra associação.
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Cada cor é preparada em uma panela com água fervente, na qual se mergulha a palha seca das folhas de licuri. Em alguns casos, é preciso adicionar suco de limão à água para firmar a cor. “Cada tipo de planta ‘pinta’ diferente: umas ‘pintam’ com a folha, outras com a flor, outras com o fruto e outras com a base, a casca…”, resume Claudylene Narciso dos Reis, de 19 anos, moradora de Serra Branca, neta e filha e artesãos. “A parte da planta que ‘der cor’ a gente usa”.
Nem todas as plantas-corantes ocorrem nas duas localidades. Então a troca de mudas e sementes também acontece. “Se não tem exatamente no lugar onde os artesãos moram, eles pegam de outros povoados. Vão buscar na Caatinga o que é da natureza e tem gente que planta no quintal de casa para não precisar ir muito longe”, conta Claudylene. E logo emenda: “o são-joãozinho tem no quintal lá de casa, já dá para tirar uma corzinha. Urucum também tem. Minha mãe e meu pai ‘pintam’ todo dia. Eu já aprendi e quero aprender mais”.
“O melhor de tudo foi resgatar um artesanato local que possibilitou às pessoas mudar de atitude, passando a ver a Caatinga de uma maneira diferente, sem achar que é um atraso ter Caatinga ao lado de casa. Passaram a se preocupar com o lixo, a ver que eram exemplo para outras pessoas. As mulheres, que antes não tinham trabalho e só viviam de bolsa-família, agora têm orgulho porque são artesãs e sua renda aumentou 200%”, conclui Simone Tenório.
Ainda podemos acrescentar, sem medo de errar: para onde quer que as peças sejam levadas, no Brasil ou no Exterior, esse artesanato de qualidade também nos ajuda a trocar o preconceito de uma Caatinga monocromática e coitadinha por um cenário mais colorido e com mais perspectiva.
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Fotos: Tietta Pivatto/Instituto Arara Azul (palhas de licuri tingidas, ao alto, e fruto de algodão mais flores de São-Joãozinho, no centro)