segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cidade sustentável: desafio (cheio de soluções) do século

Estimativas da ONU garantem que, em 2100, seremos mais de 10 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra. E mais: quanto mais populosa a metrópole, mais intenso será seu crescimento demográfico, o que torna eminente a necessidade de repensar ofuturo das cidades
Antenados nessa questão, a galera do 
TEDx Jardins promoveu nesta sexta-feira (20/09), com o apoio do Planeta Sustentável, evento para debater as cidades sustentáveis. O encontro aconteceu na sede da Editora Abril, em São Paulo e reuniu 12 palestrantes inspiradores com boas ideias para compartilhar. Confira, abaixo, o que eles disseram.

SÃO PAULO DAS PESSOAS INCRÍVEIS "A cidade de São Paulo é um caos, não tem mais jeito." Talvez essa seja a frase que a jornalista Fabíola Cidral mais ouviu nos últimos quatro anos, no comando do programa matinal de rádio CBN SP. No entanto, apaixonada por contar boas histórias, ela decidiu usar a profissão para mostrar aos ouvintes que a capital paulista tem, sim, solução. "A cidade é feita de pessoas e, se as pessoas se transformam, a cidade muda junto com elas. A mudança não é fácil, mas é possível e já tem muita gente fazendo", garante a jornalista. Entre as histórias inspiradoras que já contou está a do paulistano Hélio Silva, que tinha o sonho de construir um parque na Penha, onde mora. "De muda em muda, em 10 anos ele construiu o primeiro parque linear de São Paulo, o Parque Tiquatira, com 17 mil árvores. Hélio é um plantador de vidas e a prova viva de que a mudança da cidade pode partir dos seus moradores", disse Cidral. Ela ainda comanda o programaCaminhos Alternativos, também na rádio CBN, todos os sábados. 

A MUDANÇA COLETIVA É A SUA MUDANÇA A consultora em sustentabilidade Denise Chaer gosta de se definir como uma "fomentadora da real inovação social". Depois de viver anos fora do Brasil - inclusive em comunidades espirituais da Índia -, ela decidiu voltar para trabalhar com educação humana e ajudar a construir um futuro melhor para o país onde tinha nascido. "Mas fui engolida pelo meu próprio discurso. Em nome da sustentabilidade comecei a trabalhar em grandes empresas e minha vida virou um caos", contou Chaer. Hoje, mais "desacelerada" e à frente da plataforma Novos Urbanos, criada para debater soluções para as cidades, o conselho dela é: "Sejam a inovação social. Promovam individualmente as mudanças que querem ver no coletivo, sem discursos superficiais de desenvolvimento sustentável. Cidades vivas precisam de tecido vivo: as pessoas".
CIDADES: OBRAS DE ARTE COLETIVAS Um acampamento improvisado que vive a serviço dos carros. Foi assim que o arquiteto e urbanista Alexandre Delijaicov definiu a capital paulista em sua apresentação. "São Paulo é o retrato cru da desorganização das cidades", criticou ele.
A boa notícia é que toda essa bagunça urbana tem solução e a arquitetura pode ajudar bastante nesse processo. "Se tudo foi feito por nós, também podemos mudar tudo. A cidade é uma obra de arte coletiva, inconclusa, colaborativa e de licença aberta", definiu ele, que garante que o primeiro passo para começar a mudá-la é fazer as pessoas enxergarem que ali é sua casa. "Precisamos do sentimento de pertencimento. Não faz sentido os cidadãos acharem que seu espaço termina quando fecham a porta de casa", concluiu. 

CRIATIVIDADE É A SAÍDA Para a economista e urbanista Ana Carla Fonseca, as cidades do futuro serão aquelas que sabem transformar os problemas em solução. "Ou seja, aquelas que têm pessoas criativas", disse a especialista. E não adianta querer copiar ideias de sucesso. Depois de rodar o mundo conhecendo lugares, Cainha, como é chamada pelos amigos, concluiu que nada pode ser menos criativo - e ineficiente - do que querer importar soluções que deram certo em outros locais. "Temos que procurar as singularidadesdas nossas ruas, bairros e cidades e investir nelas. Às vezes, os olhares de quem vem de fora ajudam a encontrar essas particularidades que passam despercebidas no dia a dia", aconselhou Fonseca. De quebra, ela ainda deixou uma "receita" para as cidades criativas: inovação, conexões e cultura. "Mas isso não é uma camisa de força. É apenas uma diretriz", avisou. 

EMPRESAS RESPONSÁVEIS O sociólogo Ricardo Abramovay, autor do livro Muito Além da Economia Verde, aproveitou sua apresentação para trazer ao debate a responsabilidade das empresasna construção de cidades sustentáveis. "A rua hoje não é dos cidadãos, das crianças que querem brincar, porque a indústria automobilística e da construção civil tomou esse espaço. É preciso cobrar desses setores a responsabilidade que têm em reconstruir as cidades como local de convívio", afirmou Abramovay. Segundo ele, não adianta a sociedade civil ou mesmo os governos fazerem esforço para recuperar as cidades, se as empresas jogam no lado oposto, oferecendo boas condições para comprar carros, por exemplo. "Atualmente, a produção de riqueza é dissociada da prosperidade. Precisamos trazer a ética para o debate econômico. Isso é condição básica para repensar a vida e, portanto, a cidade", concluiu o sociólogo. 

TODA AÇÃO TEM UMA REAÇÃO Em sua profissão, o psicólogo e acupunturista Maurício Piragino está acostumado a agir para provocar reações nas pessoas e esse foi seu convite para os ouvintes do TEDx. "Quando espeto uma agulha em um paciente, busco equilíbrio. Quando falo, quero provocar um insight. O remédio para mudar as cidades é se mexer, colocar a mão na massa", disse Piragino.
Para os paulistanos, por exemplo, ele sugeriu a participação nos conselhos participativos das subprefeituras. "Há oito mil anos, o homem fez as cidades. Elas são nossa maior interferência no planeta. Portanto, cabe a nós reinventá-las", afirmou. 

MUDANÇAS QUE DEIXAM MARCAS Como bom mestre em história, Marcelo Bressanin, superintendente da Praça Victor Civita, usou sua apresentação para comparar a cidade de São Paulo a umpalimpsesto, espécie de pergaminho reutilizável, usado centenas de anos antes de Cristo. "As pessoas gravavam textos nesses pergaminhos e depois o raspavam para reutilizar, embora parte da tinta ficasse impregnada. São Paulo é assim: por conta daurbanização intensa, muitos elementos foram sobrepostos na cidade. Ela virou um palimpsesto, com qualidade literária cada vez mais inferior", comparou Bressanin. Para ele, é preciso sim revitalizar o espaço público, mas sem esquecer de ler todas as camadas dos seus pergaminhos. "Precisamos promover a ressignificação das cidades, para não cometer os mesmos erros do passado", finalizou. 

EMPODERAMENTO DAS PESSOAS Cofundadora do projeto Meu Rio, criado para incluir os cidadãos nos processos de decisão do Rio de Janeiro, a jovem Alessandra Orofino aproveitou o espaço para contar um pouco das conquistas da iniciativa. Entre elas, o impedimento da demolição da Escola Municipal Friedenreich para a construção de um estacionamento para o Complexo Esportivo do Maracanã. "Com o projeto De Guarda, mobilizamos voluntários para vigiar a escola 24 horas e impedir que ela fosse destruída. Deu certo, mas quem solucionou o problema não foi nossa ação e sim todos os cidadãos que se mobilizaram desde o início. Apenas reunimos todos eles e, ao ver que não estavam sozinhos, sentiram-se empoderados", contou Orofino. Para ela, despertar o sentimento de pertencimento é a solução para as cidades. "A partir do momento que entendo o público como meu vou querer melhorá-lo e preservá-lo", opinou. 

CIDADE DAS ÁGUAS Com o sonho de nadar no rio Tietê, o engenheiro Guilherme Castagna chamou a atenção para um recurso que é muito judiado nas cidades: a água. "Dependemos de fontes cada vez mais distantes e somos incapazes de devolver água limpa", criticou Castagna. O engenheiro fez sua parte para tentar reverter essa situação e lançou a iniciativa Livraria Tapioca. "A ideia é tirar o conhecimento da caixa preta e mostrar para as pessoas que, embora água e tratamento de esgoto sejam responsabilidade de empresas concessionárias, todos têm que fazer sua parte", explicou Castagna. Entre as sugestões do engenheiro para as pessoas estão usar banheiro seco e transformar os dejetos em adubo, usar água da chuva para fins não potáveis e separar a água cinzaproduzida em casa para outros fins, como, por exemplo, regar plantas.
BASTA À CORRUPÇÃO Depois de passar dificuldades financeiras na infância, o advogado Luciano Pereira dos Santos decidiu que queria trabalhar com algo que ajudasse a diminuir adesigualdade social do país. Foi então que se dedicou a combater a corrupção e acabou sendo um dos responsáveis pela aprovação da Lei Ficha Limpa, que contou com a assinatura de mais de 1,6 milhão de brasileiros. "Nas eleições de 2012, mais de mil candidatos foram impedidos de representar a população", contou Santos, orgulhoso. A lição que ele tira de tudo isso? "Quando a sociedade se organiza e se mobiliza, ela consegue mudar a realidade. Ser cidadão e lutar por uma cidade melhor dá trabalho, mas temos que ser protagonistas dessa mudança", afirmou. 

TODOS FORA DO QUADRADO Pessoas simples podem fazer coisas pequenas em lugares pouco importantes e conseguir mudanças extraordinárias. Essa foi a mensagem que o empreendedor Bruno Capão, do bairro paulistano Capão Redondo, quis passar aos ouvintes do TEDx. Ao atravessar a cidade para trabalhar, em Pinheiros, como gari, ele revolucionou a comunidade onde morava. "Via coisas no bairro que não existiam onde eu morava, como serviço de coleta seletiva, e me perguntava o porquê dessa situação. Inconformado, passei a levar ideias para os moradores do Capão, contaminei outras pessoas e promovemos mudanças no bairro", conta orgulhoso. Hoje, Bruno é co-fundador do Ateliê Sustenta CaPão, um negócio social que incentivou a criação de uma rede de empreendedorismo no Capão Redondo, e recomenda que as pessoas ‘saiam do seu quadrado’. "Eu precisei sair do meu para ver tudo o que vi e promover mudança na realidade do meu bairro. O Capão Redondo era um local segregado na cidade e isso está mudando", comemorou. 

HORTAS QUE RECONECTAM A relação de amor da jornalista Claudia Visoni com as hortas começou em 1999, quando ela se deparou com um alimento orgânico, produzido sem agrotóxicos, na prateleira do supermercado. "Fiquei encantada. A agricultura urbana sempre existiu, mas perdemos esse hábito depois da Segunda Guerra Mundial. A comida passou a ser cada vez mais industrializada e culminou nessa epidemia de obesidade que temos hoje", lamentou Visoni. Disposta a colocar a mão na terra, ela criou uma horta em casa, cofundou o grupo Hortelões Urbanos para trocar informações com outros agricultores e acabou participando da criação de várias hortas comunitárias na cidade de São Paulo. "A sensação é ótima. Além de comida, colhemos relacionamentos com pessoas fantásticas e ainda recuperamos o espaço urbano", afirmou a jornalista, que terminou sua apresentação fazendo um convite para que todos se reconectem com a terra. "Pode ser de qualquer forma. Qual foi a última vez que vocês colocaram o pé na terra?", provocou.

Fonte: 
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/cidade/cidades-sustentaveis-desafio-solucoes-seculo-xxi-tedx-jardins-754801.shtml?func=1&pag=3&fnt=14px

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Desperdício de alimentos é tema de concurso de desenhos



Você gosta de desenhar? Então, que tal participar do Concurso Internacional de Pintura Infantil sobre Meio Ambiente 2014 da ONU? O tema escolhido este ano é muito importante, já que cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados todos os anos.

Fonte: 
http://planetasustentavel.abril.com.br/planetinha/fique-ligado/desperdicio-alimentos-tema-concurso-desenhos-754174.shtml?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_psustentavel_planetinha

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

IPCC, cada vez mais certo


ciência do clima vem progredindo continuamente, reduzindo as incertezas acerca das consequências do aumento da concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. O avanço é lento por conta das inúmeras variáveis envolvidas no processo. O clima abrange vários sistemas, tais como atmosfera, oceanos, biosfera, que não só têm sua própria dinâmica como interagem entre si, provocando retroalimentações positivas (no caso de potencializar o efeito) e negativas (anulando o efeito).
Sendo assim, o entendimento do clima e suas variações é muito complexo e, tal qual um quebra cabeça, não se pode analisar apenas uma parte, pois se perde a visão do conjunto. Portanto, é fundamental se ter em mente a cadeia das mudanças climáticas, de maneira que se possa avaliar onde residem as incertezas e os fatos; entre o que é medido e o que é inferido e simulado.
Vários são os ganhos deste novo relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, a ser divulgado este mês em Estocolmo. No meu entendimento, o maior deles está na confirmação e reforço daquilo que já foi expresso e alertado nos relatórios anteriores. Esta ratificação do que já foi dito, aumentando o nível de certeza, desqualifica e descredencia a suspeita de que poderia ter havido uma “conspiração” por parte dos cientistas envolvidos no IPCC, tema debatido acaloradamente por grupos que se denominam de “céticos” desde a divulgação do Quarto Relatório em 2007.  O nível de certeza aumentou principalmente com a melhoria dos dados observacionais. Desde o  relatório passado, a base de dados aumentou bastante, incluindo uso de satélites além de medições locais.
Adicionalmente, os modelos computacionais usados no trabalho de simulações e projeções climáticas se sofisticaram, além do emprego de ferramentas estatísticas na avaliação do que se observa e do que é obtido por modelagem.
Ou seja, o Quinto Relatório restaura a confiança no IPCC. Isto ajuda os tomadores de decisão, uma vez que as políticas de enfrentamento às mudanças climáticas muitas vezes interferem com interesses bem estabelecidos, outras vezes implicam em custos adicionais e, ainda, em alguns casos, são impopulares.
Porém, muitas lacunas ainda persistem. Exatamente por conta destas incertezas, o relatório é repleto de qualificadores para relativizar as afirmações. Trabalha-se com probabilidades, faixas e tendências. No entanto, vale lembrar que a ciência não nos fornece certeza absoluta, não é uma ideologia nem questão de fé.  O método científico progride em cima de hipóteses, teses e teorias fundamentadas e está sempre aberto a novas descobertas.
É fato o aumento da concentração de GEE na atmosfera, também é certo que a temperatura média global da superfície terrestre vem aumentando desde o século XIX. Isto é medido. O que não se sabe ao certo é como este aumento de temperatura se relaciona com a precipitação, por exemplo. O uso de médias prejudica análises regionais. O papel de nuvens e aerossóis precisa ser mais bem compreendido. Difícil extrair conclusões sobre eventos extremos, ainda mais em regiões onde não há muitos registros estatísticos. Assim sendo, não se nega a falta de clareza de como o clima irá reagir em função das mudanças na composição da atmosfera, sobretudo em nível regional.
Há certeza, no entanto, de que estamos exaurindo os recursos da Terra e que as emissões humanas estão se sobrepondo a outros fatores complexos que fazem o clima flutuar.
Para sustentar as atividades humanas, se transfere o carbono estocado pela natureza ao longo dos anos para a atmosfera, sem que haja nenhum ciclo natural de resgate deste carbono, lançado adicionalmente pelo homem, provocando um desequilíbrio estabelecido há séculos.
Ajustes para um novo equilíbrio ocorrerão, só que com alterações no padrão climático que conhecemos hoje, causando uma série de impactos no nosso modo de vida. No entanto, é inegável que qualquer impacto ambiental não será percebido de maneira igual por todas as regiões nem por todos os habitantes do planeta. Há que se considerar as diferentes vulnerabilidades, sejam elas geográficas como pequenas ilhas ou países continentais, sejam elas econômicas como países ricos e pobres.
A solução não é trivial sendo, portanto compreensíveis os debates exaltados entre políticos, negociadores na Convenção do Clima. Estamos diante de uma questão estratégica e delicada. O Quinto Relatório do IPCC mostra que os modelos estão sendo gradativamente melhorados, as incertezas reduzidas, e a ciência vai avançando no seu ritmo, confirmando a interferência do homem no clima do planeta. Porém, decisões urgentes sobre caminhos e modelos de desenvolvimento precisam ser tomadas agora para minimizar os danos futuros, nem que seja apenas considerando o principio da precaução. Isto não cabe aos cientistas.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-do-clima/2013/09/04/ipcc-cada-vez-mais-certo/